Casa das Artes
 
 

Zona de Intervenção
Bairros da Liberdade e Bela Flor (Lisboa)

A Casa das Artes tem quatro quartos...

Quarto da imagem e da cidadania
Quarto do irreal (ou da poesia)
Quarto da memória e do diálogo
Quarto da cor e do gesto

Os bairros da Liberdade, Bela Flor e Serafina, em Lisboa, carregam desafios sociais estruturais que afectam de forma particularmente intensa a comunidade sénior e os seus núcleos familiares. O envelhecimento vivido em solidão, a escassez de oportunidades culturais e de convívio, o desemprego persistente, o frágil suporte social, os baixos níveis de escolaridade e a precariedade habitacional contribuem para um progressivo afastamento em relação à cidade. A degradação dos espaços públicos e a fragmentação das redes de vizinhança acentuam esta sensação de isolamento, como se estes territórios se tivessem tornado ilhas à margem do pulsar urbano. Permanecem, ainda assim, memórias de um tempo de maior proximidade e coesão comunitária, hoje esbatidas pelo ritmo das transformações sociais.

É neste contexto que a arte e a cultura surgem como território de reencontro. Através da criação artística, abre-se um espaço de escuta, expressão e reconhecimento, onde cada pessoa pode reinscrever a sua experiência no colectivo. A arte convoca o pensamento crítico, trabalha a auto-estima e cria condições para uma participação activa e partilhada. Projectos colaborativos permitem reactivar vínculos, valorizar saberes de vida, promover o diálogo intergeracional e devolver aos residentes um lugar de pertença na cidade. Entre memória e futuro, a prática artística afirma-se como um gesto de cidadania, capaz de religar pessoas, lugares e narrativas num processo contínuo de inclusão social e cultural.

A Casa das Artes [Liberdade], através de um trabalho em rede entre as entidades promotoras e as parceiras — com a GEBALIS, a produtora Francisco Manso e a Bela Flor – Cooperativa de Habitação — propõe uma resposta activa aos desafios sociais e culturais dos bairros da Liberdade, Bela Flor e Serafina. Dirigido à comunidade sénior, o projecto aposta na criação artística e na valorização da memória como ferramentas de expressão, reflexão crítica e coesão social.

Assente na relação entre arte e ecologia humana — a ligação entre pessoas, território e memória —, o projecto desenvolve processos criativos a partir das experiências individuais e colectivas, estruturados em quatro eixos: Palavra, Memória, Imagem e Ecologia Humana. Estas práticas criam espaços de encontro, partilha e reconhecimento, reforçando os laços comunitários, o sentido de pertença e a valorização do contributo dos mais velhos para a vida cultural contemporânea. A avaliação contínua do impacto permitirá ajustar o projecto às necessidades reais da comunidade e orientar o seu desenvolvimento futuro.

 
Casa das Artes

Casa das Artes

Casa das Artes [Liberdade] 2025/26

Conceito original
Filipe Faria

Coordenação
Rita Santos

Um projecto
O Homem - Colectivo
— Associação para a Ecologia Humana
Projecto Alkantara
— Associação de Luta contra a Exclusão Social

Financiamento
Câmara Municipal de Lisboa
Programa BIP/ZIP

Parcerias
APORDOC Associação pelo Documentário
— Doclisboa International Film Festival \ABCdoc
Grupo Viver em Liberdade
Serafina é Mais Amor
Grupo Sénior da Bela Flor

Apoios locais e de programação
GEBALIS - Gestão do Arrendamento da Habitação Municipal de Lisboa
Francisco Manso - Produção de Audiovisuais
Bela Flor - Cooperativa de Habitação e Construção, Crl.

 

Quarto da imagem e da cidadania

O Quarto da Imagem e da Cidadania é uma proposta que visa criar um espaço comunitário dedicado à arte da imagem e ao seu potencial de reflexão crítica. Dirigido à comunidade sénior dos bairros da Liberdade, Bela Flor e Serafina, o projecto, em parceria com a APORDOC — Associação pelo Documentário (DocLisboa) e com a produtora de cinema/documentário do realizador Francisco Manso, propõe-se fomentar a expressão artística e o pensamento crítico através da exibição de documentários e filmes que abordam temas como a arte, a etnografia, a memória, a história, o ambiente e a cidadania. O programa inclui dois ciclos de exibição: um Ciclo de Cinema Documental, quinzenal, e um Ciclo de Cinema Português de Autor, bimestral, com sessões dedicadas a obras contemporâneas. Os Ciclos, com a curadoria APORDOC e Francisco Manso (realizador) e uma selecção do acervo da RTP Arquivo, serão acompanhados de sessões de mediação e debate, reflexão e diálogo em torno dos temas abordados, lançando o convite a realizadores, moderadores e moradores para conversas temáticas. Estes encontros motivarão a discussão e ajudarão a problematizar as questões levantadas, contribuindo com perspectivas adicionais. Neste Quarto pretende-se reforçar o sentimento de pertença, estimular a criatividade e abrir caminhos para a transformação positiva das comunidades, mostrando que a arte e a cultura são instrumentos essenciais para imaginar e construir um futuro mais inclusivo e consciente.

 

Quarto do irreal (ou da poesia)

O segundo quarto da Casa das Artes — Quarto do irreal (ou da poesia)—, promove o Penso Rápido — Criação e Cidadania, um projecto de construção colectiva da responsabilidade de Rita Santos, que utiliza a criação artística para estimular o pensamento crítico e a expressão criativa dos participantes séniores. A arte torna-se uma ferramenta de emancipação, incentivando a criação colectiva de narrativas que desafiam a percepção do mundo e oferecem novas leituras da realidade. O projecto estrutura-se a partir da exploração inventiva de textos de dramaturgos portugueses como Gil Vicente (c.1465–c.1536), cuja escrita, marcada pela sátira social, pela crítica das injustiças e pela lucidez sobre os costumes do seu tempo, mantém uma impressionante actualidade. Estes textos são convocados como matéria para a criação contemporânea, permitindo estabelecer pontes entre passado e presente. A partir de uma leitura crítica e imaginativa, os participantes identificam paralelismos com os desafios de hoje e desenvolvem respostas artísticas livres, cruzando tradição e contemporaneidade. A prática artística torna-se, assim, um gesto de análise, invenção e afirmação, um espaço para repensar o mundo e construir novas possibilidades de cidadania e transformação social.

 

Quarto da memória e do diálogo

A sociedade contemporânea reserva pouco espaço — formal, conceptual e emocional — para o lugar da fala na velhice, um espaço muitas vezes marginalizado e feito de vozes silenciadas. A experiência, memória e sabedoria dos mais velhos são frequentemente ignoradas, mas o que têm para dizer deve ser ouvido. É essencial reconhecer o direito dos mais velhos a participarem nas decisões da comunidade, expressando opiniões e contributos. Ouvir todas as vozes, partilhar memórias e projectar o futuro a partir delas promove a inclusão social, reforçando o diálogo intergeracional e valorizando a diversidade de experiências. A memória e o passado desempenham um papel fundamental no lugar da fala na velhice, ajudando a definir caminhos futuros. A memória é condicionada pelo tempo e se transforma, renovando-se constantemente em função dos momentos, espaços e vivências. Longe de ser um arquivo fixo, a memória é um processo vivo, reescrito pela experiência individual e colectiva. Entre a recordação e a interpretação, constrói narrativas que moldam identidades e abrem novas possibilidades para o futuro. O Lugar da Fala, da responsabilidade de Filipe Faria, trabalha a memória como espaço de criação e afirmação: partilhar histórias de vida, reconstruir percursos e valorizar experiências, reconhecendo a riqueza que cada trajecto humano traz para o presente e para o futuro, através de diálogos intergeracionais que cruzam tempos, sons, palavras e imagens.

 

Quarto da cor e do gesto

O Quarto da Cor e do Gesto da Casa das Artes [Liberdade] propõe um espaço de expressão, liberdade e descoberta através da prática artística, da criação manual e da experimentação tecnológica. Dirigido à comunidade sénior dos bairros da Liberdade, Bela Flor e Serafina, o projecto parte da convicção de que a arte é um meio poderoso de comunicação, de autonomia e de fortalecimento do corpo e da mente. Utilizando materiais — mais simples ou mais técnicos —, objectos do quotidiano e recursos digitais acessíveis, os participantes exploram práticas como pintura, colagem, técnicas de mixed media, criação de pequenas instalações e cadernos de artista. Estas actividades são concebidas para estimular não apenas a criatividade e a memória, mas também a motricidade fina, a coordenação e a atenção, promovendo o bem-estar físico e emocional através do “fazer manual” e do uso criativo das novas tecnologias. O projecto valoriza o gosto pessoal, a liberdade de escolha e a autonomia criativa, encorajando cada participante a seguir o seu próprio ritmo e imaginário. A dimensão lúdica é essencial: criar é também brincar com formas, cores, materiais e dispositivos, resgatando o prazer da experimentação e a alegria da descoberta. O Quarto da Cor e do Gesto assume-se como um espaço de encontro entre a arte, a liberdade, o corpo, a memória e a imaginação, projectando novas possibilidades de pertença, de expressão e de transformação social.

 

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